O que levou os seres humanos a criar culturas, esse conjunto impressionante de práticas e instrumentos onde se incluem a arte, os sistemas morais e a justiça, a governação, a economia política, a tecnologia e a ciência?
A resposta habitual a esta pergunta remete para a excecional inteligência humana, auxiliada por uma faculdade ímpar: a linguagem. Em A Estranha Ordem das Coisas, António Damásio proporciona uma resposta diferente. Ele afirma que os sentimentos – de dor, sofrimento ou prazer antecipado – foram as forças motrizes primordiais do empreendimento cultural, os mecanismos que impulsionaram o intelecto humano na direção da cultura. Além disso, propõe que os sentimentos monitorizaram o sucesso ou o fracasso das nossas invenções culturais e permanecem, ainda hoje, envolvidos nas operações subjacentes ao processo cultural, para o melhor e para o pior. A interação favorável e desfavorável de sentimento e razão deve ser reconhecida se quisermos compreender os conflitos e as contradições que afligem a condição humana, desde os dramas humanos pessoais até às crises políticas.
António Damásio
António Damásio é professor da cátedra David Dornsife de Neurociência, Psicologia e Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institute na University of Southern California, em Los Angeles. Neurologista e neurocientista, Damásio tem dado contributos fundamentais para a compreensão dos processos cerebrais subjacentes às emoções, aos sentimentos e à consciência. O seu trabalho sobre o papel do afeto na tomada de decisões teve um impacte profundo na neurociência, psicologia e filosofia. Autor de numerosos artigos científicos, foi nomeado «Highly Cited Researcher» pelo Institute for Scientific Information, e é considerado um dos mais eminentes psicólogos dos nossos tempos. É membro da National Academy of Medicine e da American Academy of Arts and Sciences, da Bavarian Academy of Sciences, e da European Academy of Sciences and Arts. Foi distinguido com numerosos prémios, entre os quais o Prémio Grawemeyer [2014] e o Prémio Honda [2010], o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica [2005], e os prémios Nonino [2003], Signoret [2004] e Pessoa [1992]. Foi homenageado com doutoramentos Honoris Causa por diversas universidades de topo, vários deles partilhados com a sua mulher Hanna, como por exemplo da École Polytechnique Fédérale de Lausanne [EPFL], em 2011, e da Sorbonne [Université Paris Descartes], em 2015. Descreveu a sua investigação e as suas ideias em diversos livros, entre os quais O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano [1995], O Sentimento de Si: o Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência [2000], Ao Encontro de Espinosa: As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir [2003] e O Livro da Consciência: A Construção do Cérebro Consciente [2010], que estão traduzidos em mais de trinta línguas e são ensinados em universidades de todo o mundo.